Às vezes gostava de ser um robot, de não me apegar tanto às histórias de vida das pessoas. De não me apegar tanto a elas. De deixar de as sentir como minhas. Sou uma sentimentalista profunda e muitas vezes sofro com isso. O facto de o ser, não me torna melhor ou pior pessoa. Torna-me sim mais próxima e se calhar um alvo mais fácil. Não sei...
Às vezes o facto de ser médica também não ajuda. Acabo por me apegar a alguns doentes e não consigo não o fazer. E se por um lado sofro com isso, por outro não me importo nada de ser assim. E vou continuar a sê-lo. A criar ligações com quem se cruza comigo. A ouvir as histórias dos meus doentes (e não não choro com eles). A perceber que a vida por vezes é uma cabra, mas que existem pessoas fortes que sobrevivem a tudo. A saber que chorar não faz ninguém ser fraco, mas sim a ser forte o suficiente para demonstrar o que sente.
Às vezes dar a mão a alguém que sofre pode ser mais importante do que nós pensamos. Um abraço na altura certa, uma demonstração de carinho quando alguém precisa, ou quando não precisa podem marcar uma vida. E a sua ausência também. Costumo dizer que quando a nossa vida é uma festa não faltam convidados, mas quando parece um funeral só poucos vão. E são esses os que levamos para a vida. Os meus contam-se pelos dedos, mas valem mais que ouro. São o meu tesouro.
Às vezes acabo por entregar-me demais, sofrer demais, chorar demais. Sou assim, uma chorona por dentro com um sorriso por fora. Trago os outros comigo para casa e eles são a minha companhia. E são importantes para mim. Porque quando dou recebo. E felizmente tenho recebido muito. Tenho recebido amor, nestes tempos complicados e sorrisos quando mais preciso deles.
Às vezes o meu refugio são as histórias dos outros porque quando as ouço não penso na minha. Esqueço os meus problemas e passo a ver os deles. A minha bagagem não é leve, mas a deles também não. E se dividirmos os pesos, tornasse mais fácil carregá-la.
Às vezes ser assim é uma merda, mas não saberia ser mais nada nesta vida.
Às vezes sofro, mas ganho sempre! E que quero eu mais da vida, do que ter o coração cheio de amor? Mais nada. Isso basta-me! Isso faz-me feliz! E será que ao ser assim isso torna-me mais vulnerável?
Às vezes...
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