Nem toda a gente que nasce
numa ilha é ilha, mas eu sou. Sou um ser isolado
que não vive sem o mar. Não respira sem a brisa fresca. Não sobrevive
sem o cheiro da terra após a chuva. Sou alguém que por mais que a
terra trema e que os vulcões rebentem abana mas não sai do lugar.
Alguém que tem cicatrizes provocadas pelo tempo e feridas por fechar e
no entanto sabe que o tempo cura tudo. Porque ilha que é ilha não se
deixa afundar, não é Atlântida perdida no fundo do mar. Assiste ao nascer
e ao pôr-do-sol, à bravura das ondas e à loucura do vento, e sabe que
mais tarde será a hora da acalmia. Sou só e sou ilha. Não tenho
pontes que me liguem a outras paragens, nem laços que me prendam a alguém.
Sou ilha errante no meio do mar e sobrevivo assim. Não faço falta a
ninguém e por isso não me preocupo. Vivo como quem não fica à espera do
sol, mas antes como quem se sabe iluminar pela lua e que sabe que
se quiser o sol só tem de esperar pelo amanhã. E a ilha espera, e
enquanto espera vai-se abraçando ao mar que tal qual Romeu apaixonado,
vem sempre beijar a terra. E a terra que é Julieta enamorada
é a ilha envergonhada. E a ilha sou eu. E o mar? Esse é segredo
meu. E não conto a ninguém! O meu mar, o meu amor. E eu terra, e ele o
mar nunca nos havemos de separar, porque terra sem mar não é ilha e
toda eu sou ilha! E a ilha ama o mar! :)
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