segunda-feira, 4 de maio de 2015

"Um dia vais-te sentar, de olhos postos no vazio, e vais relembrar todos os momentos que te trouxeram até aqui. Vais lembrar o primeiro pôr do sol que viste com atenção, o primeiro amanhecer ao lado de alguém que amavas. Vais-te lembrar das gargalhadas nos dias quentes de Verão, dos filmes das tardes de Domingo, durante os dias chuvosos de Inverno. Vais-te recordar das batalhas travadas. Das guerras que venceste e das guerras em que saíste vencida. Um dia alguém te irá dizer novamente que te ama. Vais ficar de pé atrás. Vais pensar duas vezes. Vais-te lembrar do dia em que tudo aquilo que podia dar certo não deu. Vais-te lembrar do último momento em que o viste. As lágrimas choradas. As súplicas abafadas “fica não vás”, mas ele avançava até desaparecer, e tu, muda, continuavas “fica, não vás”. Ele foi e ficaste tu e o teu coração estilhaçado por todos os lugares em que foram felizes. Mas a vida avança. Tu, como todos nós, avanças com ela. E eventualmente alguém disparará novamente um “amo-te” na tua direcção. Tu tentarás desviar-te porque o teu coração ainda guarda as chagas de feridas anteriores. Desviar-te-ás até ele desistir, assumindo que, de facto, ele desistirá. Se ele te merecer não desistirá. Continuará a dizer “amo-te”. Dirá cem vezes, mil se realmente for necessário. E elaborará “amo tudo em ti, não só o que faz sentido, não só o que me mostras, amo tudo em ti, mesmo aquilo que não compreendo, mesmo aquilo que ainda não descobri, amo tudo em ti.”. Tu sorrirás. Começarás a ceder porque o coração quer. As chagas deixarão de fazer sentido e serão apenas recordações do caminho que te trouxe até aqui. Um dia alguém te irá dizer que tu não és apenas a sortuda que ganhou na lotaria do amor, tu és merecedora desse amor."

                                                                        (Pedro Rodrigues)

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