"(...) Quisera poder enfeixar nesta página emotiva o essencial da minha consciência de ilhéu. Em primeiro lugar o apego à terra, este amor elementar que não conhece razões, mas impulsos; – e logo o sentimento de uma herança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar. (...)"
("Açorianidade", Vitorino Nemésio)
Talvez seja por isso que eu não me sinta pertencer a lugar algum...Nem aqui, e talvez nem já na ilha...Sou uma errante que anda por aí...Que um dia decidiu cruzar o oceano e tentar a sua sorte...Hoje pergunto-me se não seria melhor não tê-lo feito...Se abandonar a ilha tenha sido pecado, como que abandonar o paraíso e ser mal agradecida...Pergunto-me se é por isso que as saudades me acompanham como a não quererem largar-me, a não quererem soltar-me, com medo que eu esqueça o que um dia vivi...que eu esqueça onde vivi...o lugar que me viu nascer...E ser ilhéu é isso mesmo. É saber não pertencer a lugar nenhum. É saber que as saudades fazem parte da vida. É saber sentir o mar como ninguém e amar a terra com todas as forças. Ser ilhéu é ser sobrevivente de sismos e tempestades. A ilha pertence-me e eu pertenço a ela. É um casamento para a vida sem possibilidade de divórcio. Um amor que resiste aos anos e à distância. Porque posso estar 50 anos sem lá ir, mas tenho a certeza absoluta que quando lá chegar vão parecer 50 segundos. O tempo que leva a memória a chegar ao coração. E a ilha terá sido achada!
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